terça-feira, 28 de junho de 2011

Algarvios ilustres - Duarte Pacheco

Ministro das Obras Públicas de Salazar, Duarte Pacheco modernizou o País. Hábil a fintar os esquemas asfixiantes do regime, reestruturou os serviços dos correios e telecomunicações e revolucionou o sistema rodoviário. Executou obras essenciais na cidade de Lisboa, como o Parque de Monsanto e o Aeroporto. Falar de Duarte Pacheco é falar, ainda, de uma nova política de habitação, planos de urbanização, ensino, cultura. É o exemplo de como a modernidade é sempre factor de progresso. Uma obra de “actualidade desconcertante”, diz Maria de Assunção Júdice, bibliotecária da Câmara Municipal de Cascais.

Com grande carácter, vontade forte e ousadia extrema, Duarte Pacheco revoluciona Portugal nas mais diversas áreas: obras públicas, transportes e comunicações, assistência, ensino e cultura. Marca de forma decisiva “não apenas a imagem da Lisboa do seu tempo mas também a do País”, refere o deputado João Soares, no livro “Evocar Duarte Pacheco no Cinquentenário da Sua Morte”. “A sua personalidade e espírito empreendedor foram marcados por uma vontade de modernidade, em contradição com as circunstâncias da época em que viveu”, acrescenta.


Duarte Pacheco nasceu em Loulé em 19 de Abril de 1900. Aos 14 anos já tinha perdido a mãe e o pai, ficando sob a tutela do irmão mais velho, Humberto Pacheco. Ao longo dos estudos demonstra sempre elevado nível de intelectualidade e em 1917 ingressa no recém-criado Instituto Superior Técnico (IST). Seis anos depois termina o curso de Engenharia Electrotécnica com a classificação de 19 valores. Pouco depois, é convidado para professor de Matemáticas Gerais no Instituto e em 1927 é nomeado director do IST. No ano seguinte foi convidado para ministro das Obras Públicas. Abandona o governo em 1936 mas voltará em 1938 a ocupar cargos políticos, aceitando ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa, seguindo-se o regresso ao ministério das Obras Públicas nesse mesmo ano.

Duarte Pacheco debateu-se contra forças insondáveis e, como um velho urso, soube fintar muito bem os constrangimentos do regime. Na paz sonolenta de então, conseguiu deixar a sua marca. “É um congregador”, afirma o arquitecto José Manuel Fernandes. “É um ministro que se submete ao governo salazarista, mas que consegue uma liberdade de acção e inovação extraordinárias.” Propõe e faz. “Reorganiza o urbanismo de Lisboa, que estava desorientado, avança com auto-estradas, cidades universitárias, grandes parques da cidade, e consegue seduzir e motivar os arquitectos para fazerem o melhor possível.” Pacheco tinha algo de utópico, mas soube reunir à sua volta um núcleo de prestigiados arquitectos e engenheiros que deram forma aos projectos a que se foi dedicando.

Outro mérito de Duarte Pacheco foi “comprar terrenos para fazer Alvalade, ainda hoje considerado um dos melhores espelhos urbanísticos de Lisboa”, lembra o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. Concretiza uma “obra pública” através do investimento em grandes espaços de território. “Hoje não se faz isso. Procura-se fazer um ‘puzzle’ de investimentos, cada um financeiramente rentável, sem ligação entre eles. E, depois, temos o caos total nas nossas cidades periféricas, o afogar da zona histórica e o abandono da agricultura.”


Portugal deve-lhe a modernização dos serviços dos correios e telecomunicações e a revolução do sistema rodoviário. Duarte Pacheco “soube aproveitar o poder de que foi investido para servir o seu país”, escreve Maria de Assunção Júdice, no livro “Evocar Duarte Pacheco no Cinquentenário da Sua Morte”.

Foi o impulsionador do grande salto qualitativo da engenharia portuguesa. O Aeroporto de Lisboa, a renovação do IST e o Parque de Monsanto também fazem dele uma referência obrigatória. “O Parque, que é hoje o pulmão da cidade de Lisboa, é concepção, execução e paixão de Duarte Pacheco”, garante João Soares.

Devoto ao trabalho, o governante tinha a missão de cuidar da cidade com dedicação, amor e disponibilidade permanente. Mas “o que resta da sua acção é mais do que isso: é o exemplo de como a modernidade é sempre factor de progresso e de como a qualidade não é incompatível com o viver na cidade”, sintetiza João Soares, no mesmo livro. Duarte Pacheco morreu num acidente de viação em 1943.

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