domingo, 26 de agosto de 2012

Terras do nosso Algarve - S. Marcos da Serra

Recolhida na sua ruralidade, a aldeia de S. Marcos da Serra oferece um esplendoroso panorama, onde se destacam os sobreiros, os medronheiros, e a azinheira. O ar está carregado do cheiro do rosmaninho, da urze e da esteva. A paisagem é o seu maior valor patrimonial, misturando os verdes das árvores e da vegetação selvagem, nas encostas que enquadram a brancura da aldeia tipicamente serrana.



A aldeia desenvolve-se em torno da Praça Central, onde se localiza a Igreja matriz, segundo dois eixos. Trata-se de um conjunto ainda harmonioso, com a presença de casas de tipologia rural, de um piso, construídas em taipa e com tecto de caniço, ou então com dois pisos, acompanhando as ondulações do terreno.


Localização

Situada numa colina, entre outras que formam a Serra de Espinhaço de Cão, S. Marcos da Serra é a primeira localidade do Algarve, bem na fronteira com o Alentejo.
Ali ao lado, passa o comboio, e a IP1.
Basta tomar o desvio devidamente assinalado na IP1 e percorrer algumas centenas de metros para nos encontrarmos no centro da aldeia.


População

Em São Marcos da Serra vivem 1510 pessoas de acordo com o Censo de 2001. O isolamento levou ao envelhecimento da população. Todavia, nos últimos anos, alguns jovens, em busca de um estilo de vida mais próximo da terra e dos valores naturais têm-se fixado na freguesia.


Actividades Principais

A economia de base rural, a sucumbir perante a instalada crise da agricultura, provocou o êxodo da população mais jovem, que procura o trabalho e o bem-estar noutros locais. Embora não seja fácil inverter esta tendência, a presença de “novos rurais” que a preservação ambiental do sítio atrai, fez surgir novas actividades produtivas, como o fabrico do pão, dos enchidos e da doçaria.
O património natural é um dos recursos com mais futuro, dada a riqueza da sua fauna, da sua flora silvestre, dos produtos mais castiços da região – o medronho e o mel – e das potencialidades que se lhe oferecem através do turismo rural.
A cestaria, em especial mobiliário de cana e também alguns trabalhos de tecelagem, são os produtos artesanais mais procurados.
As zonas circundantes, florestadas e de mato, propiciam a produção de mel e medronho e de produtos corelacionados, como por exemplo os bolos de mel da doçaria tradicional.
Existe ainda uma produção florestal intensiva de pinheiro marítimo e eucalipto, em socalcos, nas encostas.
A azinheiras, de porte extraordinariamente grande, têm geralmente copas achatadas e são limpas periodicamente para estimular a produção de bolota. Da lenha resultante, faz-se carvão.


História

S. Marcos da Serra é sede de freguesia desde a implantação da igreja de S. Marcos Evangelista no ponto mais alto da povoação, conhecido por “o Castelo” e rodeado por paredões de defesa e de sustentação. O antigo templo, que remonta ao séc. XVII, possui linhas simples, mas contém interessantes imagens religiosas. “Remonta esta por certo ao séc. XVI, época da sua curiosa e bela pia baptismal. Repare-se ainda no singelo mas representativo altar barroco da sua capela--mor.”



Património Cultural

Implantada bem no centro de São Marcos da Serra, no seu local mais elevado e na artéria pública que presumivelmente conduzia ao castelo, existe uma chaminé tradicional, parte integrante de uma modesta casa privada de planta rectangular e fachada típica tripartida, com uma porta ladeada por duas janelas.
Trata-se de um elemento sem paralelo em todo o Algarve, não apenas pelas suas exageradas dimensões, mas também pelo facto de ter sido datada do século XVII. Quanto ao primeiro destes aspectos – a imponência da chaminé face à ruralidade que caracteriza a casa – explica-se como uma clara marca de poder do proprietário, que patrocinou a sua construção, facto ainda realçado pela localização do imóvel no ponto mais elevado da aldeia e, neste sentido, visível a longa distância. A imponência e rendilhado das chaminés algarvias configuraram, à época, o elemento mais visível do prestígio sócio – económico dos seus proprietários.
Embora a datação secular desta chaminé suscite dúvidas, uma vez que as tipologias de chaminés não estão definidas numa perspectiva diacrónica e esta possui a data de 1909 numa cartela, dados que deverão motivar alguma cautela e suscitar a investigação, a casa foi recentemente restaurada, mantendo o essencial da sua traça rural característica,
Ainda que prejudicada pelas construções situadas na envolvência, que não respeitaram as antigas volumetrias, é a tradicional linha urbanística que persiste.



Património Natural

A aldeia está alcandorada numa colina com vários cabeços em redor e circundada pela ribeira do Odelouca, que aí toma o nome de Ribeira de S. Marcos. As suas casas serranas, algumas com bonitas chaminés rendilhadas, dispõem-se em degraus, com ruas muito íngremes subindo para o largo da Igreja Matriz. Todas as casas são caiadas de branco, em contraste com o fundo verde – ocre da terra. As hortas limítrofes formam espaços muito pitorescos, anunciando a existência da Ribeira do Odelouca e dos seus afluentes Saliente-se a diversidade da flora e da fauna locais. Com sorte, os observadores de aves poderão descobrir, entre muitas outras espécies nidificantes, o o gavião, várias águias, o pombo torcaz, a cotovia, o melro, o rouxinol e o pintassilgo.


Tradições

Este território que separa as planícies alentejanas do ameno litoral sul do país, tem uma paisagem que no século XVI foi descrita, por frei João de São José na sua Corografia do Reino do Algarve, com um realismo surpreendente, e por comparação com o Oceano como um «mar muito empolado, com grande tormenta, onde não se vê cousa chã ou igual senão umas ondas altas e outras maiores junto delas, ficando uns grandes baixios saídos entre umas e outras...». Ainda hoje, a serrania cobre-se de estevas e tojo. Aqui e além, hortinhas verdejantes, leiras de milho e centeio mantêm-se por teimosia de braços que não sabem estar parados.
O oráculo da aldeia, homenageado na Igreja Matriz, admite-se que tenha sido o autor do Segundo Evangelho da Bíblia. Marcos e Maria viviam em Jerusalém e a sua casa servia de local de reunião dos primeiros cristãos. Discípulo de São Paulo, esteve ao seu lado quando este ficou preso em Roma. Foi também discípulo de São Pedro. E os críticos modernos afirmam que o evangelho de Marcos foi escrito por volta dos anos 60/70 e dirigido aos cristãos de Roma.
É certamente referindo-se ao provérbio popular “Por S. Marcos,(festejado a 25 de Abril) bogas e sáveis nos barcos” que surgiram estas quadras populares de Lúcia Maria Coelho Guerreiro.

"Nesta terra esquecida
É tudo à grande e à francesa
Os peixes são como burros
Será história ou é certeza?

Boa gente não falta
Nesta terra serrana
Ir à pesca, só com tresmalho
Nem pensar em ir com cana"


Produtos Locais

A valorização crescente dos produtos naturais e que conservam os bons sabores tradicionais leva a que algumas das actividades artesanais ressurjam. Com a cana e o vime que crescem nas margens das ribeiras próximas, os artesãos dedicam-se à cestaria, tanto de pequenas peças como de mobiliário.
Os enchidos tradicionais, oriundos do porco preto, alimentado pela bolota dos azinhais e a doçaria em que o mel surge a dourar as receitas são outros dos produtos que apetece provar. Também o pão, cozido em forno de lenha, surge como uma tentação a que é bom ceder.


Gastronomia

A excelência dos produtos serranos, tantas vezes transitando directamente da horta ou do fumeiro para a panela, começa a transformar a gastronomia num grande atractivo para os visitantes. A caça também fornece deliciosas receitas.


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