sábado, 11 de junho de 2011

Lendas Algarvias - A Lenda das Três Gémeas

No tempo em que Silves pertencia aos Mouros, vinha o rei Mohamed a passear a cavalo quando encontrou um destacamento do seu exército que trazia reféns cristãos. 


Entre estes estava uma lindíssima jovem, sumptuosamente vestida, acompanhada da sua aia, filha de um nobre morto durante o saque ao seu castelo. 

Mohamed ordenou que a nobre dama fosse levada para o seu castelo, onde a rodeou de todas as atenções, e lhe pediu que abraçasse a fé de Maomé para se tornar sua mulher. 

A jovem chorou de desespero porque Mohamed não lhe era indiferente, mas a sua aia encontrou a solução: ambas renegariam a fé cristã apenas exteriormente para agradar ao rei mouro e possibilitar o casamento. 

Passado algum tempo, nasceram três gémeas a quem os astrólogos auspiciaram beleza, bondade e ternura, para além de inteligência, mas avisaram o rei que este deveria vigiá-las quando estas chegassem à idade de casar. 

O rei não as deveria confiar a ninguém. 

Passaram alguns anos e a sultana morreu, ficando a aia, que tinha tomado o nome árabe de Cadiga, a tomar conta das jovens. 

Quando estas eram adolescentes o rei levou-as para um castelo longe de tudo, onde havia apenas o mar por horizonte. 

As princesas tornaram-se mulheres, mas embora gémeas tinham personalidades muito diferentes. A mais velha era intrépida, curiosa, porte distinto e de olhar insinuante e profundo. 

A do meio era a mais bela, de uma singular beleza e apreciava tudo o que era belo, as jóias, as flores e os perfumes caros. 

A mais nova era a mais sensível. 

Tímida e doce, passava horas a olhar o mar sob o luar prateado ou o pôr-do-sol ardente.


Um dia, contra todas as indicações do rei aportou perto do castelo uma galera com reféns cristãos, entre os quais se salientavam três jovens belos, altivos e bem vestidos. 

Curiosas, as princesas perguntaram a Cadiga quem eram aqueles homens de aspecto tão diferente dos mouros. 

Cadiga respondeu-lhes que eram cristãos portugueses e contou às princesas tudo sobre o seu passado. 

Como as princesas começassem a ficar demasiado interessadas com os jovens cristãos, Cadiga pediu ao rei que levasse as filhas para junto de si, sem lhe explicar a razão.

Cavalgavam as princesas com o rei e o seu séquito a caminho de Silves quando se cruzaram com os três cativos cristãos que não respeitaram a ordem de baixarem o olhar. 

As princesas quando os avistaram levantaram os véus e o rei, furioso, mandou castigar os cristãos insolentes. 

As princesas ficaram muito tristes mas conseguiram convencer Cadiga a arranjar maneira de se encontrarem com os jovens cristãos. 

A paixão violenta desencadeada por aquele encontro foi alegria de pouca dura. 

Os três cristãos foram resgatados pelo rei português e iriam embora em breve. 

As princesas dispuseram-se a segui-los e a converterem-se à fé cristã antes de casarem com os nobres cristãos. 

Cadiga rejubilava por conseguir resgatar para a fé que secretamente professava as filhas da sua ama. 

Foi então que a princesa mais nova se recusou a partir e a abandonar o pai. 

Ficou para trás e, conta a lenda, morreu de tristeza pouco tempo depois.

 A sua alma ainda hoje se lamenta e chora na torre do castelo nas noites sem luar.

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