O convento de São Francisco de Portimão foi fundado em 1530, ano em que Simão Correia, capitão de Azamor e figura importante do Algarve quinhentista, doou umas casas junto ao rio aos Padres Observantes da Província de Portugal.
Desconhecem-se os primeiros tempos de vida desta instituição, uma vez que o estabelecimento dos frades apenas aconteceu em 1541, dadas as divergências no seio dos franciscanos peninsulares. No entanto, uma descrição de 1734, constante das Memórias Paroquiais desse ano, permite concluir que as obras de construção do convento iniciaram-se pouco depois da sua fundação. Aí se refere que quando os primeiros frades chegaram, acharam a igreja feita; por outro lado, sobre a entrada principal existia um brasão com as armas de Simão Correia, um facto que prova o empenhamento pessoal do instituidor na edificação do conjunto conventual (MAIA e VENTURA, 1993, p.28).
A igreja é a parte mais antiga de todo o complexo. A sua estrutura é bastante sóbria e simples, articulando uma nave única com uma profunda capela-mor rectangular (reformada em época maneirista) e um narthex quadrangular. O portal de acesso à igreja assume-se como o principal elemento decorativo do convento, sendo mesmo o único exemplo de "porta geminada algarvia (...) de dois arcos contracurvados (...) e um mainel" (RAMOS, 1986), hoje desaparecido. Na sua essência, contrasta flagrantemente com o portal do narthex, bastante mais simples, de volta perfeita e moldurado em cantaria, mais tardio e provavelmente inserido numa campanha de obras dos anos 70 desse século XVI. Ainda do período manuelino tardio procede um brasão circular (ladeado por um cordão vegetalista entrelaçado), onde se representaram as armas de Simão Correia, que actualmente se conserva no Museu Municipal de Portimão.
O espaço melhor conseguido do conjunto é o claustro, obra maneirista de dois andares, sendo o superior metade da altura do inferior, com as alas abrindo para a quadra central através de arcos de volta perfeita, assentes em poderosos pilares quadrangulares de impostas salientes. Em torno do claustro organizava-se toda a vida da comunidade religiosa e para este espaço confluem todas as dependências do convento. Estas apresentam algumas características dos vários estilos por que se caracteriza a arquitectura do século XVI, reflectindo, ao mesmo tempo, as diferentes etapas de construção do edifício. Assim, a Sala capitular ostenta um portal de arco contracurvado com decoração manuelina, característica da primeira fase de obras no convento. Já as alas do claustro, abobadadas com cruzaria de ogivas, ou o refeitório, localizado no lado oposto da igreja, denota uma construção tardia, já na viragem para o século XVII.
A história do Convento de Nossa Senhora da Esperança de Portimão, nos últimos séculos, é a história de decadência de uma das mais importantes casas espirituais do Algarve da época moderna, e da sua ruína. Em 1755 deu-se o primeiro grande momento de destruição, com a derrocada da abóbada da igreja, e de numerosas dependências, o que levou mesmo à transferência temporária da comunidade para a Igreja do Corpo Santo.
Após a extinção das Ordens religiosas, o convento teve várias funções, todas contribuindo para a sua lenta destruição. A 24 de Abril de 1884, servindo a igreja de depósito de cortiça, deflagrou um incêndio que consumiu grande parte do conjunto e a totalidade do seu recheio. Em 1911, estando abandonado, passou para a posse de João António Júdice Fialho, um dos principais nomes ligados à indústria conserveira algarvia, que o transformou em armazém e depósito de apoio a essa mesma actividade.
Ao longo do século XX, a Câmara Municipal de Portimão tentou adquirir o imóvel, mas, até ao momento, tal intenção não foi concretizada, impasse que tem acentuado o estado de quase ruína em que o imóvel se encontra.
Como é possível o nosso património ser tão mal tratado?!
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