domingo, 22 de julho de 2012

Terras do nosso Algarve - S. Brás de Alportel

No centro histórico da vila, por entre as casas térreas e caiadas da arquitectura popular avultam os prédios apalaçados dos antigos industriais e comerciantes da cortiça, com fachadas cobertas por azulejos, cantarias lavradas e varandas de ferro.
A influência Árabe está patente na designação de alguns sítios – Almargens, Alcaria, Alportel e Mesquita.


Localização

Com uma área aproximada de 150 km2, está situado no coração do sotavento algarvio numa zona de transição entre o Barrocal e a Serra e faz fronteira com os concelhos de Tavira, Loulé, Faro e Olhão. É constituído por uma só freguesia e cerca de 40 sítios dispersos pelo seu território, com nomes tão singulares como Tesoureiro, Tareja, Javali, Desbarato, Cova da Muda, Mesquita, Alportel, Soalheira e Cabeça do Velho entre muitos outros.

População

A população desta única freguesia atinge os 10.000 habitantes pelos dados preliminares de 2001.

Actividades Principais

A estrutura económica tradicional é a pequena unidade agrícola tanto no Barrocal de sequeiro, como no de regadio e o montado de sobro, em grande número na serra. Paralelamente, a indústria extractiva, de calcário e de brecha, e a indústria transformadora ganham alguma importância. A indústria corticeira continua a ser um dos símbolos desde o século XIX, pela importância que ainda detém, negociando-se aqui mais de 60% da produção do país.
O montado de sobro ocupa uma extensa área concelhia. Produz mais de 230 mil arrobas/ano de cortiça de primeiríssima qualidade e as cerca de 20 fábricas em plena laboração representam uma importante fonte de emprego.



História

A área do concelho de São Brás de Alportel tem vestígios de presença humana desde o Neolítico, sendo a via romano-medieval, hoje em recuperação, testemunho dos primeiros fluxos mercantis na zona.
Da presença da civilização romana neste concelho existem ainda “alguns metros” de uma calçada romana que ligava esta povoação a Ossonoba (Estoi) e Pax Júlia (Beja), e ainda uma inscrição funerária (séc. II d. C.) encontrada no pedestal do púlpito de uma ermida (hoje Igreja de S. Romão) e que se encontra no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.
Também foram encontrados em S. Brás, em 1915, vestígios da invasão dos bárbaros (Visigodos) séc. V d. C. Faziam parte desse espólio arqueológico duas sepulturas antigas que abrigaram uma bilha, em perfeito estado e algumas ossadas.
No séc. XVI, o local de nascimento do poeta árabe Ibne Ammar no séc. XII, era ainda um pequeno povoado com uma ermida.
Sobre os árabes, foram encontradas moedas de prata quadradas e uma em ouro, numa “panela”. Segundo Silva Lopes, em meados do séc. XIX, a aldeia de “S. Braz d’Alportel”, sede de uma das freguesias de Faro, era “grande e bonita, com um formoso templo de três naves na praça, algumas casas e ruas boas e uma bonita quinta. Para leste, havia uma fonte de muita e excelente água, onde bebiam os moradores e cujos sobejos regavam hortas e faziam rodar as mós de alguns moinhos”. A freguesia tinha então cerca de mil fogos, a maior parte na serra
No início do séc. XX, beneficiando das novas estradas entre Loulé – Tavira e Faro – Almodôvar e da proximidade das fontes de matéria-prima, S. Brás tornou-se o principal centro corticeiro português, registando um forte surto demográfico, comercial e industrial. Em 1914, é criado o concelho. Nos anos 20, com a transferência da indústria da cortiça para outras regiões, a vida local como que estagnou. Hoje, com um desenvolvimento mais harmonioso, o concelho preserva alguns bons testemunhos deste longo passado.

Património Cultural

A Igreja Matriz tem um excelente miradouro sobre a paisagem envolvente. O templo, de provável construção do séc. XV e ampliação do séc. XIX, contém pinturas de santos de ima- ginária do séc. XVII e um retábulo neoclássico em mármore no baptistério.
Capela do Senhor dos Passos - Evidencia-se a talha dourada ao gosto da segunda metade do séc. XVIII.
Paço Episcopal Construído nos sécs. XVII-XVIII para que os bispos do Algarve escapassem aos calores do pino do Verão, sofreu modificações posteriores que alteraram a sua estrutura. Hoje, resta parte do edifício principal e uma fonte barroca abobadada com oito bicas.
Casa da Cultura António BentesMuseu Etnográfico do Trajo Algarvio, instalado num edifício representativo da arquitectura burguesa do final do séc. XIX. O museu realiza diversas exposições temporárias e alberga uma diversificada recolha etnográfica da região: mostra de trajos característicos do Algarve nos sécs. XIX-XX; núcleo de escultura religiosa po-pular; colecção de veículos tradicionais recuperados e respectivos arreios no cenário das antigas cavalariças, de uma exposição de alfaias agrícolas e ainda área dedicada ao Ciclo da Cortiça.




Património Natural

A vegetação natural é constituída por sobreiros sob os quais nasce um estrato arbustivo de esteva e medronheiros. Os vales férteis abrigam culturas horto-frutículas. A parte sul da freguesia tem uma flora rica onde um grande número de orquídeas floresce na Primavera. Geralmente a partir de Fevereiro começa a florir a Ophrys Tenthredinifera e a época termina no princípio de Junho com o satirião-menor.
As alfarrobeiras da região gozam de merecida fama; são árvores centenárias, que ficam carregadas de vagens negras a parir de meados de Julho. A alfarroba tem variadíssimas utilizações – pode servir para alimento para gado, sucedâneo de chocolate ou matéria prima para a indústria farmacêutica. Para além das alfarrobeira encontram-se também amendoeiras e figueiras.

Tradições

O Sr. José Viegas de São Brás faz vassouras das folhas secas de palmeira anã. Estica uma corda entre o cinto e o anel preso a uma tábua, mantendo-se assim sobre uma tensão uniforme. Pega então sobre dois folíolos cuja extremidade dobra sobre esta corda esticada e fixa-os com uma fina tira de palmeira. Repete então os procedimentos até que as folhas atadas à corda sejam suficientes para dar a volta a uma cana seca. Depois de bater a palma com um martelo até esta ficar plana, ata-a à cana rematando com a extremidade da corda firmemente presa dentro da própria atadura. Põe então um prego para completar a fixação ao cabo. Depois de aparadas as pontas das “cerdas” estas são passadas por um dispositivo que mais parece “uma cama de pregos” que lhes confere o aspecto fino e acabado.

Produtos Locais

Muitas das velhas artes e ofícios continuam activos em São Brás de Alportel.
Testemunham-no as vassouras e pincéis de palma produzidos em Soalheira, os trabalhos de empreita de Peral e Alfarrobeira da Tumba, as cantarias de Chibeira e Corotelo, os canastros e cestos de Desbarato. Ainda se encontram em Vale de Mealhas as tijoleiras e telhas produzidas manualmente e os ferros forjados em Vilarinhos e Gralheira.
Às colheres de madeira, às miniaturas de carros típicos, aos peões dos jogos infantis de Vilarinhos juntam-se as cadeiras da Ribeira de Alportel.

Gastronomia

Gaspacho, açorda de poejo, coelho bravo (serrano), cabrito com ervilhas, galinha cerejada, ovos com tomate, grão com ovos, são alguns dos aromáticos pratos da gastronomia local. Os méritos dos produtores locais estendem- -se à aguardente de medronho, aos licores de ervas silvestres e à doçaria de amêndoa, figo e alfarroba.

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