Mais de 24 milhões de euros é valor dos prejuízos causados pelos incêndios da última semana em Tavira e São Brás de Alportel, num cálculo preliminar feito pelos autarcas dos dois concelhos algarvios que viram desaparecer a maior mancha de sobreiros da serra do Caldeirão.
Para apoiar as vítimas, o Governo anunciou ontem a criação de uma comissão interministerial coordenada pelo ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, que terá ainda como missão propor medidas que evitem que a massa florestal ardida venha a contaminar os sistemas de abastecimento de águas da região.
Os presidentes dos municípios de Tavira e São Brás de Alportel, Jorge Botelho e António Eusébio, estiveram anteontem reunidos com Miguel Relvas e nove secretarias de Estado para "definir a linha de actuação do Governo, que se pretende seja conhecida o mais breve possível".
Também presente na reunião, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, David Santos, lembrou que a zona afectada constitui uma parte significativa da bacia hidrográfica que serve o sistema de abastecimento de águas.
"Aquela é uma zona de recolha de água nas barragens e fornecimento para o Sotavento algarvio", disse, alertando que só uma intervenção rápida conseguirá evitar que haja "penetração para os aquíferos ou até para as barragens, uma questão muito importante para o Algarve".
"Cenário dantesco"
Só em Tavira, estimou Jorge Botelho, os prejuízos resultantes dos fogos terão ascendido a mais de dez milhões de euros. Em São Brás de Alportel, o autarca António Eusébio calculou em 13 milhões os danos apenas florestais, a que se juntam mas 1,5 milhões em "bens particulares e privados, directamente ligados ao edificado". "Foram afectadas mais de 60 famílias, mais de cem pessoas, directamente, por este fogo", revelou.
O Governo fará a sua própria avaliação na próxima sexta-feira, numa reunião na CCDR que juntará quatro secretários de Estado e os eleitos locais. O Bloco de Esquerda já pediu a audição urgente de Miguel Relvas no Parlamento para esclarecer que medidas de apoio às vítimas dos incêndios pretende aplicar.
Também ontem, a Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais (ANBP) anunciou que vai interpor um processo-crime contra o presidente do Governo Regional da Madeira pelas suspeitas levantadas em torno dos incêndios. Numa visita às zonas fustigadas pelas chamas - um "cenário dantesco", descreveu -, Alberto João Jardim registou ontem a "estranha coincidência" de os incêndios terem ocorrido apenas semanas depois de ter defendido a redução do número de bombeiros na região. "Esta situação excepcional até parecia servir para provar que não há bombeiros a mais", disse Jardim, motivando a reacção negativa dos dirigentes da ANBP.
Para que a Madeira possa fazer face aos prejuízos causados, Jardim pediu o "aligeiramento" do plano de resgate que obrigou a duras medidas de austeridade e ao maior aumento de impostos de sempre no arquipélago. E admitiu renegociar com o Governo de Pedro Passos Coelho esse mesmo programa, que facultou à Madeira um empréstimo de 1500 milhões de euros para pagar a credores parte da dúvida regional superior a 6,5 mil milhões. Aquando do temporal de 2010, a região beneficiou de apoios financeiros da República na ordem dos 740 milhões para cobrir grande parte dos prejuízos causados.
Fonte: Público
Sem comentários:
Enviar um comentário