Do alto do moinho vê-se o casario branco da aldeia, a várzea e vislumbra-se o serpenteado da ribeira de Seixe, precipitando-se em direcção ao mar, que encontra a meio da praia, formando ali caprichosas ilhotas, ao sabor da maré. Um encanto que nenhuma outra terra tem.
Identidade
Odeceixe abre-nos as portas do Algarve, a primeira aldeia algarvia depois das terras do Alentejo.
Encostada a uma colina, as suas ruas são estrei-tas com casas rurais, na sua maioria caiada de um branco imaculado. A Ribeira de Seixe, sendo esta uma das ribeiras que têm água durante todo o ano, permite a proliferação de muita vegetação, assim como a existência de espécies autóctones na fauna e na flora.
Localização
Entre Odemira e Aljezur, junto à EN 120, na fronteira que divide o Algarve do Alentejo.
População
Aos 932 habitantes referidos pelos Censos 2001 muitos são os veraneantes que se lhes juntam, procurando a aldeia, tanto nacionais e destes especialmente os alentejanos do interior que respondem ao apelo do mar e da pesca, assim como turistas cativados pelas belezas naturais.
Actividades Principais
As várzeas de Odeceixe, inundadas pela ribeira de Seixe, e assim fertilizadas, permitem o desenvolvimento de vários produtos, nomeadamente a batata doce, o milho e o amendoim, proporcionando um óptimo desenvolvimento da agricultura.
Como é comum nesta costa, os agricultores transformam-se amiúde em pescadores, na captura de espécies de alto rendimento comercial como os sargos, douradas e robalos, assim como os mariscos.
História
A aldeia está incluída na faixa costeira de território onde se desenvolveu a cultura mirense (5 a 8 mil anos a. C.) que se localizou e entre o Rio Mira, no concelho de Odemira e o Burgau, parte integrante do Concelho de Vila do Bispo. Os mirenses eram povos nómadas, e sendo caçadores e recolectores não se dedicavam à agricultura. Utilizavam os seus machados para recolher mariscos das falésias e para escavar a terra à procura de tubérculos. A caça completava a sua dieta.
Há inúmeros vestígios arqueológicos a atestar a sua presença na região.
Património Cultural
Igreja Matriz de Odeceixe - Igreja Paroquial é do séc. XIX, apresenta uma arquitectura de enorme simplicidade interior, com arco triunfal. Capela-mor de estilo neo-clássico e dois altares colaterais, sendo a padroeira a Nossa Sr.ª da Piedade.
Pólo Museológico do Moinho - Situa-se no topo de um cerro sobranceiro à aldeia. Dentro do espaço do moinho, reconstruído com os materiais tradicionais, está um moleiro que fornece explicações aos visitantes acerca do processo de moagem.
Museu Adega de Odeceixe - Inaugurado em 1992 apresenta um espólio composto pelos diferentes utensílios utilizados no fabrico do vinho, desde o processo de transformação da uva e consequente fermentação até ao produto final. Estão presentes as pipas, funis, copos, garrafas, entre outros ordenamentos necessários. Os candeeiros, escadas, cadeiras, bancos são fruto de uma recolha nas antigas casas rurais e fazem também parte deste espólio Museológico.
Património Natural
Estando em Odeceixe, estamos também em pleno coração do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, de uma indesmentível riqueza paisagística, faunística e florística, sem esquecer o património geológico, arqueológico e histórico.
A paisagem oferece falésias imponentes e dunas no litoral. Para além do mar, há linhas de água que originam lagoas temporárias durante a época das chuvas. Existem também zonas húmidas e estuários como é o caso de Odeceixe, mas também da Bordeira/Carrapateira e de Alzejur.
Aqui crescem espécies botânicas únicas, a par de plantas endémicas como o tomilho e o loureiro.
Outras espécies que raramente criam no litoral europeu e estão presentes aqui são o pombo da rocha ou a garça boieira. Texugos e fuinhas também surgem assim como as lontras, que na Europa se encontram em diminuição ace-lerada devido à poluição ambiental e que, neste Parque, se mantém em boas condições.
O vale de Odeceixe é banhado pela Ribeira de Seixe, nasce na serra de Monchique e desagua na praia de Odeceixe, delimitando assim o Algarve do Alentejo.
Esta ribeira possui potencial para desenvolvimento de actividades de animação ambiental como a canoagem, observação de aves, dada a riqueza de espécies ou a interpretação ambiental, devido à elevada preservação da zona.
Tradições
O moleiro costumava ser um homem de muitos saberes, porque precisava de dar atenção às mudanças do tempo, saber da qualidade dos cereais, ser capaz de consertar as peças do moinho e até perceber de negócios e de comércio.
O isolamento dos moinhos fazia-os receber amavelmente as visitas, e ser bons conversadores. A industrialização trouxe a decadência dos moinhos de vento, em termos económicos mas a sua arquitectura marca a paisagem, sendo um património incontestável do mundo rural.
Produtos Locais
Os trabalhos de cabedal e as rendas fazem parte, de alguns produtos artesanais de importância para Odeceixe.
Os produtos agrícolas, como a batata doce, o amendoim e o milho fazem parte dos produtos cultivados nas Várzeas da Ribeira de Seixe.
Gastronomia
A gastronomia de Odeceixe reflecte as actividades da sua população que ora lavra a terra, ora faina no mar, misturando os sabores.
Tomem-se as vagens de feijão catarino criadas nas leiras da Ribeira de Seixe, os chocos e os polvos apanhados na maré do dia e eis uma feijoada “à minha maneira”, receita confeccionada na pitoresca Taberna do Gabão, em Odeceixe.
Receita
Feijoada “à minha maneira”
Ingredientes para 12 pessoas:
4 litros de feijão catarino
2 ramos de salsa
4 conchas de azeite
5 cebolas grandes
3 pimentos
1 cabeça de alho
4 cenouras
2 folhas de louro
1 ramo de coentros
5 a 6 tomates maduros
1 chouriço vermelho
1 colher de banha caseira
2 Kg de polvo
2 Kg de choco
500 g a 1Kg de gambas
Um pouco de sal
Para a confeccionar, coloque o feijão de molho de um dia para o outro. No dia seguinte coze--se o feijão em água abundante com um ramo de salsa e uma colher de azeite.
Faz-se um refogado com azeite e um pouco de banha, cebolas grandes picadas, pimentos, alho picado, cenouras às rodelas, folhas de louro, um ramo de coentros, um ramo de salsa, tomates maduros e chouriço vermelho cortado às rodelas.
Deixa-se refogar bem e junta-se o polvo e o choco cortado aos bocados ao preparado, e deixa-se cozer até ficar tenro.
Por fim junta-se o feijão cozido ao polvo e ao choco com a água que se cozeu o feijão. Quando estiver tudo cozido juntam-se a algumas gambas. Se for necessário rectifica-se o sal ou junta-se picante.
O prato é servido com um pouco de arroz e coentros picados em cima da feijoada.
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