domingo, 8 de abril de 2012

Terras do nosso Algarve - Bordeira/Carrapateira

Bordeira é uma aldeia envolta por serranias e campos de cultivo. Algumas ruas mantêm o pitoresco das casas tradicionais e há ruínas de um antigo solar.

Bordeira

Já a Carrapateira, aninhada por entre as dunas, possui ali perto um porto piscatório, abrigo certo para o mar bravio desta costa.

Carrapateira

Localização
A EN 268, antiga estrada romana, limita a Bordeira a Norte e a poente. O núcleo urbano é condicionado pelos cerros que a rodeiam a Leste enquanto a sul corre a Ribeira com o mesmo nome.
A Carrapateira, localiza-se a 5 km da Bordeira na EN 268, entre Sagres e Aljezur.

População
Ambas as aldeias estão na freguesia da Bordeira, parte integrante do concelho de Aljezur possui cerca de 500 habitantes de acordo com o último Censo, realizado em 2001. Depois de ter perdido 54,4% da sua população entre as décadas de 60 e 80 do séc. XX, tendência que se atenuou na década seguinte, mantendo no entanto uma percentagem negativa de 14,1 entre 1981 e 1991 e de 8,5% no censo de 1991, o último Censo, em 2001, registou pela primeira vez um valor positivo de 6,3%. A preservação ambiental tem atraído novos habitantes, que aqui se estabelecem.

Actividades Principais
A Bordeira é uma aldeia envolta por serranias e campos de cultivo. As férteis várzeas das ribeiras motivaram a exploração agrícola, hoje de subsistência, e também a pecuária. Nos “cerros” próximos desenvolveu-se a apicultura.
Na Carrapateira a pesca e a mariscagem começaram um pouco como lazer e forma de complemento da dieta, isto devido ao mar bravio. O alto valor comercial que entretanto adquiriram espécies como o sargo, a dourada, os perceves e outras espécies marinhas reforçou a sua importância para a economia das comunidades.

História
Achados arqueológicos na zona da Carrapateira atestam a presença do homem no período Paleolítico Antigo ou Médio.
Registe-se ainda a presença celta e romana, admitindo-se que os fenícios e os gregos terão demandado estas paragens, utilizando o estuário da Ribeira da Carrapateira como ancoradouro.
Aqui passava a via Romana que partia de Sagres e demandava Vila do Bispo, Carrapateira, Aljezur e Odeceixe, prolongando-se até Alcácer do Sal.
De acordo com estudos arqueológicos, os romanos exploraram a mina de magnésio, situada no cerro do Canafrechal, a sul da Carrapateira.
O período árabe foi o que mais influenciou a história e o modo de vida da localidade, o que ainda é visível na agricultura e também nas técnicas de construção das casas mais antigas à base de taipa e telha de canudo.
Os árabes, mais do que outros povos, e no Algarve mais do que noutras regiões do País, influenciaram durante o seu domínio multissecular, mesmo depois da ocupação cristã, a história e a cultura regional.

Achados arqueológicos na zona da Carrapateira

Património Cultural
Igreja Matriz de Nossa Sr.ª da Encarnação (Bordeira)
Templo construído em 1746 e muito afectado pelo terramoto de 1755, apresenta no exterior, simples, um pequeno átrio de estilo Barroco muito primitivo e rudimentar.
O seu interior, possui um arco triunfal, o retá-bulo do altar-mor e os altares colaterais em talha dourada, estes integram as imagens de Nossa Sr.ª da Encarnação (séc. XVIII), de S. Francisco, Santo António e S. Luís (séc. XVII) e um S. Sebastião do séc. XVI.
Possui ainda uma elegante pia baptismal, de estilo manuelino que se repete no portal do cemitério anexo.

Igreja Matriz da Carrapateira
Rodeada pelas muralhas do Forte da Carrapateira é um edifício notável do período Manuelino, edificado no séc. XVI. Apresenta características de uma arquitectura popular, como as formas e texturas, as suas proporções e elementos decorativos. Contém no interior tábuas Maneiristas e uma pia baptismal com capitel manuelino. Tem um retábulo de talha no altar-mor com imagens do séc. XVII e XVIII. Imagem de Nossa Sr.ª do Rosário (séc. XV?) e dois painéis figurando o Santo António e São Pedro, provavelmente do séc. XVI a pia baptismal manuelina é do séc. XVI.

Forte da Carrapateira
As muralhas do Forte são de xisto da região,e a construção inicial data do séc. XVII, por iniciativa de D. Nuno da Cunha Ataíde, Conde de Pontevel e Governador do Reino para defesa contra a pirataria.
O forte, fazia parte da praça de guerra de Sagres, no entanto em 1821 já de nada servia por não ser possível atingir o mar com tiros de canhão, entretanto formaram-se dunas entre o imóvel e o mar.
As muralhas que hoje podemos observar não correspondem à traça e extensão dos muros da construção do séc XVII. Os povos que aqui viveram deixaram marcas ancestrais, umas cons-truídas, outras perdurando no imaginário popular de culturas várias. Património e história, tradições e lendas, forjando uma identidade própria.

Porto de pesca da Carrapateira
Situado na Ilha do Forno e de características tradicionais, o porto abriga barcos de pesca artesanal.

Porto de pesca da Carrapateira

Património Natural
A região que compreende o complexo da Carrapateira e Bordeira, apresenta um elevado valor ecológico, uma vez que nela se encontram repre-sentados vários tipos de habitates importantes que caracterizam o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV).
Num clima tipicamente mediterrâneo, com influência atlântica, de Invernos amenos e Verões frescos, o vento tem um papel importante nas condições climatéricas.
Densos estevais, pinhais, áreas agricultadas e matos, constituem a maioria do vale da Vilarinha, onde se situa a Bordeira. Na zona do litoral, a Carrapateira, envolta por um cordão dunar com grande diversidade florística, é caracterizada pela presença de praias extensas. A fauna também é muito rica e diversificada. De salientar a presença do tritão de ventre laranja, do sapo parteiro ibérico, do cágado de carapaça estriada e do camaleão.
Algumas das espécies de aves encontram-se no topo da lista das prioridades de conservação, como por exemplo: a águia de Bonelli e o garajau. A estas espécies juntam-se garças, pombos, rolas, ou a galinhola. Com bons locais para abrigo, descanso, alimentação e reprodução, estas são áreas preferenciais para nidificação, passagem e invernada de avifauna.
A Ribeira da Carrapateira desempenha um papel importante nas longas migrações da avifauna como ponto de descanso e alimentação. A lontra, gato-bravo, o coelho-bravo, a geneta e os javalis, povoam, de forma abundante, os cerros.

Paúl da Carrapateira
Localizado a Norte da Carrapateira. Podemos encontrar aqui pequenos charcos onde abundam os belos nenúfares, palcos de sapos e rãs que de Inverno coaxam de noite e dia. Por aqui os imponentes freixos e choupos embelezam esta bonita e densa paisagem verdejante.

Tradições
O nome da Carrapateira, deve estar relacionado com o nome da ribeira, nascida na Serra de Espinhaço de Cão, no Pico de Poldra, que desagua na margem esquerda da Ribeira da Bordeira.
Há todavia quem associe o termo à abundância de carrapatos na região, entre outras hipóteses. Pode-se também imaginar que o nome tenha surgido de Carrapateira, uma planta da família Euphorbiaceae, também conhecida por mamona ou ricínio. Outra das possibilidades será a existência nesta zona de muitas pereiras brancas, também conhecidas por carapeteiros ou carrapateiros.

Produtos Locais
As Artes piscatórias, aplacados que foram os medos por um conhecimento mais profundo dos mistérios do mar, representam a par dos produtos agrícolas e do mel, os produtos locais mais importantes.
Inventou-se aqui um instrumento, a arrilhada, inspirado na enxada da lavoura, que serve para arrancar os perceves à rocha.

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