Hoteleiros do Algarve estão a apostar em pacotes de "tudo incluído" mas adaptados a programas que visam quebrar a rotina do cliente que não gosta de se sentir "prisioneiro" no hotel. A proposta de "jantar fora" sem precisar de levar carteira foi posta em prática, no ano passado, em duas unidades do grupo Luna & Resorts, no Alvor, e alargou-se este Verão a Albufeira, mas em breve poderá chegar aos restaurantes da zona do barrocal e da serra.
Os orçamentos para férias emagreceram e os empresários "moldaram-se" às leis do mercado, que pretende encontrar destinos acessíveis, dentro de certos padrões de qualidade. Joaquim Canastro, director comercial do grupo Luna - com 12 unidades hoteleiras na região algarvia -, apostou na ideia de jantar fora, em restaurantes à escolha do cliente, sem se pagar mais por isso.
A receptividade que a iniciativa obteve no Alvor, acrescenta, levou-o a alargar a proposta a Albufeira. "Resultou em pleno", garante o responsável hoteleiro, adiantando que pretende desenvolver outras parcerias no sector do turismo para contrariar a ideia de que o sistema de "tudo incluído" implica ficar confinado a um resort, sem ter grande espaço de manobra para sair de lá se não se estiver disposto a pagar mais do que o valor previamente acordado.
Joaquim Canastro criou um voucher que permite aos clientes escolherem um restaurante fora do hotel. Em Albufeira, dispõem de um leque de sete restaurantes: quatro de especialidade (espanhol, chinês, italiano e indiano); dois tipicamente portugueses e um de comida internacional. O prato mais a entrada ficam por um valor entre os 12 e os 14 euros. As bebidas são pagas à parte. Mas, caso o cliente pretenda escolher um qualquer outro prato da ementa, fora do estabelecido, também o poderá fazer mediante um pagamento extra na ordem dos cinco euros. A boa aceitação da ideia, segundo garante, "incentiva a alargar a proposta aos restaurantes do interior, na zona do barrocal e serrana".
"As pessoas, cada vez mais, definem um orçamento para as férias, e não querem ter surpresas nos gastos", justifica Joaquim Canastro, que defende a necessidade de se criarem sinergias entre os vários parceiros do sector.
Conceito a ser trabalhado
"É o conceito que o Algarve tem de trabalhar", salienta, por seu lado, o vice-presidente da Associação dos Industriais de Hotelaria e Similares do Algarve, Vítor Faria. Os hotéis, nota, "talvez não tenham a possibilidade de oferecer, por si só, uma tão grande diversidade de oferta ao nível da restauração". Na Quinta do Lago, por exemplo, existe uma outra prática. Um famoso restaurante de praia da zona tem um acordo com o hotel e o cliente não precisa de se preocupar com o pagamento. A conta é debitada juntamente com o aluguer do quarto.
Os grandes operadores turísticos, afirma Joaquim Canastro, "moldam o mercado, e o Algarve tem de seguir a corrente dominante". Por isso, o também administrador do Hotel Califórnia entende que a nova forma de comercializar quartos passa pelo pacote turístico com "tudo incluído", mas levando os clientes a conhecer outros espaços, para além do hotel em que estão hospedados.
Quem discorda do sistema de all inclusive é José Carlos Leandro, proprietário do hotel Alísios, em Albufeira, por considerar que copiar o modelo - a imitar os resorts das Caraíbas, mas também já praticado por unidades algarvias - comporta riscos. "Não pago ordenados com taxas de ocupação", advertiu o hoteleiro, chamando a atenção para a descapitalização de algumas empresas. A prosseguir por este caminho, alertou, a região envereda pela massificação.
O hotel Vila Galé Náutico, em Armação de Pêra, apostou este ano no sistema all inclusive, com bons resultados. "Mantivemos a qualidade", sublinha o director Carlos Cabrita, classificando de "muito positiva" a adesão dos clientes.
"Temos de dar corda à imaginação", sustenta Joaquim Canastro, para quem não é a oferta do sistema assente no uso de uma pulseira de uso exclusivo num empreendimento que conduz ao turismo massificado: "A massificação fez-se pela construção civil. As camas estão aí para serem alugadas". O corte do financiamento bancário, só em Albufeira, deixou centenas de camas turísticas por concluir. Uma das zonas da envolvente à marina está transformada numa "muralha" de cimento à espera de compradores.
Fonte: Público
Sem comentários:
Enviar um comentário