Mais de 3,7 milhões é a estimativa de custos só da estabilização do solo e remoção do material ardido do incêndio da serra do Caldeirão. O valor é avançado num relatório elaborado pela Unidade de Defesa Florestal, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, destinado a minimizar os efeitos da erosão com a queda das primeiras chuvas.
No entanto, contando com a recuperação do potencial agrícola e apoio social às famílias afectadas, os prejuízos atingirão os 12 milhões de euros no concelho de Tavira, mais 13 milhões no município de São Brás de Alportel.
O fogo, que teve início em 18 de Julho na Catraia, alastrou ao concelho vizinho de São Brás de Alportel. O presidente da Câmara de Tavira, Jorge Botelho, lembra que o levantamento feito pelas entidades responsáveis pela área das florestas "fica-se apenas pela estabilização do solo, para evitar que se dê contaminação dos aquíferos, logo que se verifiquem as primeiras chuvadas".
Além dos prejuízos agrícolas, o incêndio, que queimou 24.843 hectares de mato, sobreiros e pinheiro-manso, "afectou ainda cerca de 17% da zona especial de conservação e zona de protecção especial do Caldeirão", registando-se ainda um "impacto negativo considerável na actividade apícola".
A nível social, o Governo disponibilizou 600 mil euros, a dividir pelos dois concelhos atingidos pelo incêndio, para recuperar as casas ardidas e garantir as necessidades básicas das famílias mais carenciadas. O apoio, de 400 euros por pessoa do agregado familiar, em prestação única, começou a ser pago. As candidaturas estão abertas até 2 de Outubro.
Quanto aos milhões que serão necessários para repor, dentro do possível, o que foi destruído, Jorge Botelho aguarda pelo cumprimento das promessas governamentais. "Espero que haja a possibilidade de apresentar, em breve, candidaturas no sector agrícola, com 75% a fundo perdido, através do Proder [Programa de Desenvolvimento Rural]". As pessoas que viram desaparecer pomares, motores de rega e árvores de cultivo, sublinha, "têm expectativas de que serão ajudadas".
O relatório sobre a avaliação dos impactos nos espaços florestais, diz o autarca, refere valores "abaixo dos preços de mercado". A título de exemplo, exemplifica, cinco euros para corte e remoção de cada árvore ardida parece-lhe "baixo". Situação idêntica verifica-se na limpeza de valetas: 15 mil euros para intervir em 100 quilómetros de rede viária está abaixo do que a câmara tem pago para esse tipo de trabalho. Porém, interpreta os valores como "referência" e "uma estimativa".
O perigo de contaminação das linhas de água surge como uma das primeiras preocupações ambientais. O fogo afectou a bacia hidrográfica do rio Gilão, que desagua na ria Formosa, e as sub-bacias da Foupana e de Odeleite, afluentes do rio Guadiana. Os efeitos dos primeiros chuvas, salienta o relatório do director da Unidade de Defesa da Floresta, Rui Almeida, "poderão provocar a erosão dos solos, arrastando-os e transportando-os para as zonas de vales e linhas de água, assoreando campos e poços".
Proteger origem da água
A área afectada pelo incêndio, acrescenta o documento, apresenta "condições propícias à erosão por ravinamento". Por outro lado, o facto de a albufeira de Odeleite ser a origem do abastecimento público de água do Sotavento algarvio, "exige uma atenção redobrada" nas acções a desenvolver "como forma de salvaguardar a origem da água". O fogo atingiu também a zona de protecção especial da serra do Caldeirão, que abriga algumas espécies protegidas e em risco, destacando-se o lince ibérico, a águia de Bonelli, águia cobreira e o bufo real. Ao nível do património cinegético, o incêndio atingiu 33 zonas de caça.
No âmbito do Proder deverão ser apoiados projectos, entre 50 a 100%, para "estabilização de emergência"; "restabelecimento do potencial silvícola"; "controlo de pragas e doenças em espécies florestais", e "controlo de espécies invasoras".
Fonte: Público
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