Este percurso leva-nos pelo interior do Algarve, do Algarve mais nordeste.
Dá-nos a descobrir uma natureza genuína e pura, expressa na paisagem, nos costumes e nas suas gentes. Sob o signo da água descobrimos engenhos, entramos num mundo de grandes e pequenas barragens e muitas e grandiosas ribeiras. E em cada recanto deliciosas formas de estar, na quietude e no silêncio em que a azinheira acompanha o recente pinheiro e o resto são matos. Os modos de ser do mundo rural podem ser recordados em diversos Núcleos Museológicos, mas é ao vivo que percorremos as ruas de terra batida, provamos o pão e os enchidos, descansamos num poial e trocamos dois dedos de conversa. E se apreciamos os testemunhos dum rico património arqueo-metalúrgico e natural, este é o roteiro certo.
1º Troço: Odeleite - Vaqueiros
Começamos o percurso em Odeleite visitando a Igreja de Odeleite (1), um edifício do séc. XVI onde apreciamos as pinturas sobre talha e algumas peças de ourivesaria muito valiosas. Num passeio pelas ruas da aldeia podemos observar alguns fornos comunitários e engenhos de água. Também merece uma visita o Moinho de Água das Pernadas (2), situado a norte de Odeleite. No local das comportas da barragem de Odeleite, 50m por cima da estrada de terra batida, estão construídas duas eiras circulares, muito bem conservadas, uma em terra batida e outra em ladrilhos de barro. São vestígios da arquitectura rural serrana e de práticas agrícolas locais. Mas o que confere grande atracção turística a Odeleite são a Ribeira e a Barragem de Odeleite (3), o seu ambiente natural, a variedade de fauna e flora e as excelentes zonas de banhos. Seguindo a EN 122 até ao cruzamento para o Vale do Pereiro, tomamos a estrada municipal 505 e fazemos uma paragem nesta pitoresca aldeia. Convivemos com a presença forte da arquitectura rural serrana e o artesanato que se produz localmente. Seguimos pela mesma estrada e chegamos a uma pequena localidade com vestígios de uma forte tradição mineira, ligada às antigas minas de cobre e a uma actividade extractiva de tempos imemoriais. É o Monte das Furnazinhas (4) situado entre as Ribeiras da Foupana e de Odeleite. A paisagem apresenta um ondulado de cerros arredondados, entrecortados por sinuosos barrancos. Nas terras baixas as hortas são envolvidas por cercas e nas zonas altas a paisagem é de matos, pastagens e arvoredos. Para os apreciadores de espécies de caça, a Reserva de Caça Associativa das Furnazinhas (5) disponibiliza excelentes locais de observação.
Continuamos até à pitoresca localidade de Soudes. Como cartão de visita temos logo à entrada um Moinho de Vento (6). Vamos encontrar algumas eiras antigas e vários engenhos de água. Numa paisagem de sobreiros e pinheiros, fazemos um passeio até à Barragem das Perguiças (7) onde podemos pescar ou simplesmente descansar.
Barragem de Odeleite
2º Troço: Vaqueiros - Martinlongo
Apanhamos depois a estrada 506 até chegar a Vaqueiros. Nesta aldeia, deambulando tranquilamente pelas ruas, lado a lado com as construções serranas, e num cenário tipicamente rural, chegamos à Igreja Matriz de Vaqueiros (8). Recomendamos uma visita ao Núcleo Museológico de Vaqueiros “Vidas do Campo” (9), onde se apresenta um retrato da organização rural e um relato das práticas económicas da agricultura de subsistência, com destaque para o papel económico do núcleo familiar. Ficamos a perceber melhor o ciclo do pão e o seu lugar na gastronomia da zona, tal como o do azeite e o do porco. Os primores da horta, o mel, o queijo, o vinho caseiro, o medronho e a carne de borrego completam esta dieta feita essencialmente de ingredientes produzidos localmente.
Por fim podemos ir tomar banho à Barragem de Vaqueiros ou fazer, ali perto, um piquenique na Fonte da Parra (10), num passeio por entre juncos, loendros, choupos e estevas. Para quem aprecia o modo de viver de outros tempos, basta deslocar-se até ao Monte das Ferrarias, uma pitoresca localidade toda ela construída em pedra, com as ruas em terra batida e pedra (11). Dispõe de uma hospedaria para quem desejar pernoitar.
Na estrada 506, cerca de 200m antes do Monte das Ferrarias, encontramos o Parque Mineiro da Cova dos Mouros (12), com 5000 anos de história para contar. Na antiga mina, redescoberta em 1865, encontra-se um percurso pedestre inédito, com perto de 1000m a céu aberto. Mostra a evolução da história da mineração e da metalurgia com reconstituições pré-históricas de habitações e utensílios primitivos, o que transmite ao visitante a sensação de viajar em épocas remotas. Neste parque podemos ainda dar um passeio de burro, percorrendo uma paisagem de grande riqueza. Junto à Ribeira da Foupana (13) existem excelentes locais para passear e para banhos.
Cova dos Mouros - Parque Mineiro |
3º Troço: Martinlongo - Giões
O percurso continua até Martinlongo. O nome da aldeia, diz a história, que provém de um habitante de nome Martim e que era muito Longo. Só que ninguém sabe se era longo de altura ou longo de vida. O nosso primeiro encontro vai ser com a Igreja de N. Sra. da Conceição (14). É um templo Quinhentista cuja origem remonta a uma antiga mesquita de que conserva o minarete, adaptado actualmente a torre sineira. A sua sacristia tem o mais importante arquivo do concelho. A próxima visita é à Ermida de São Sebastião (15) que apresenta reminiscências medievais. Antes de deixar a aldeia vamos até à “Flor da Agulha” (16), uma oficina muito conhecida onde as artesãs concebem as bonecas de juta, cada uma representando as diversas profissões de antigamente. Também situada na povoação, a Olaria de Martim Longo (17) perpetua a tradição do trabalho do barro. Nos agro-alimentares, destacam-se o mel, o pão, os enchidos e os doces regionais.
De Martinlongo vamos fazer três rotas. A 1ª rota leva-nos à Barrada para visitar o Núcleo Museológico “Espelho de Nós” (18), onde se apresenta a comunidade num conjunto de fragmentos, nos quais os seus habitantes se reflectem. Inclui ainda informação do concelho de Alcoutim sobre as formas de distribuição e uso das terras, a estrutura fundiária da região e a dinâmica da comunidade como espaço de construção da identidade. A apreciar ainda, junto à Ribeira da Foupana, um Moinho de Água (19).
A 2ª rota leva-nos a Castelhanos para conhecer o Moinho de Água das Serralhas (20) situado junto à Ribeira do Vascão. Encontra-se em muito bom estado de conservação, se bem que não esteja a funcionar. Tomamos a EN 124 para iniciar a última rota, fazendo um pequeno desvio para Santa Justa. Aqui visitamos o Núcleo Museológico (21) instalado na Escola Primária. Este núcleo recriou a sala de aula dos anos 50/60, com os materiais e métodos da altura, e pretende dar a conhecer às novas gerações o ensino primário de outros tempos e recordar aqueles que ali viveram a sua infância. Antes de sair da localidade é de apreciar a Ermida de Santa Justa (22), um pequeno templo Quinhentista.
Martimlongo
4º Troço: Giões - Fonte Zambujo
Voltamos para trás para apanhar a EN 124 e vamos até ao cruzamento de Giões. Aí seguimos pela estrada 507-1 até Giões, uma aldeia no coração da serra Algarvia. Visitamos a Igreja Matriz de Giões (23), outro dos muitos templos Quinhentistas deste percurso, que exibe um portal de arco perfeito, orlado por bonitos efeitos de argamassa pintados a azul. É de destacar a bonita janela rectangular com vitral em losangos. Saímos de Giões para fazer novas rotas. A 1ª é ao Cerro das Relíquias (24), situado numa das margens da Ribeira do Vascão, perto da ponte. É um antigo povoado Árabe que apresenta vestígios de algumas minas antigas. O local tem também valor paisagístico, grande riqueza na fauna e flora, diversas zonas de banhos e agradáveis locais para merendar (25). Neste sítio, junto à Ribeira do Vascão e à ponte, encontra-se um Moinho de Água (26) muito bem conservado. O moinho está construído em forma circular e podemos ver como é que se moíam os cereais antigamente. A 2ª rota a fazer é até ao sítio de Água Santa, um local de banhos na Ribeira do Vascão, provido de águas sulfúreas (27) que se notabilizaram pela cura de algumas doenças de pele.
Voltamos à estrada 507 e desviamos para Clarines para uma visita à Ermida de Nossa Sra. da Oliveira (28). É um pequeno templo de notável simplicidade e grande significado, pois diz-se que Nossa Senhora apareceu junto à oliveira para falar com a população. Junto a Clarines fica a povoação de Farelos. Estas duas localidades estão inseridas numa paisagem quase alentejana, repleta de sobreiros. Em Farelos recomendamos o contacto com o Núcleo Museológico “Tecer e Usar” (29), que ilustra a técnica da tecelagem da lã e pretende incentivar a sua prática.
Seguimos novamente pela estrada 507 até à EN 124 em direcção ao Pereiro. Envolve-nos uma planície muito seca. A vegetação é pobre. No Pereiro sugerimos a visita à Igreja de São Marcos (30), um templo Quinhentista com um interessante conjunto de retábulos. Do Pereiro fazemos um desvio para a localidade de Fonte Zambujo para descobrir, na antiga Escola Primária, o Núcleo Museológico “A Construção da Memória” (31). Aqui é apresentada uma exposição sobre diversas manifestações da cultura popular, como as superstições, as actividades artesanais e a poesia popular.
Voltamos à EN 124 e seguimos para Alcoutim com propostas muito aliciantes em termos de património e que estão contempladas no percurso “Pelo Vale do Guadiana”. A escolha é diversa: o Castelo, o Menir do Lavajo e um rico património religioso. Os amantes da natureza podem desfrutar de praias fluviais e imensas ribeiras e barragens.
Ribeira do Vascão
Conheço praticamente todo o Algarve e já passei por alguns dos sítios que menciona, mas outros há que não me recordo de os ter visitado. Aguçou-me a curiosidade e espero em breve poder apreciar esses maravilhosos lugares que ainda não estão registados nos meus albuns fotográficos. Bem haja.
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