sábado, 3 de março de 2012

À Descoberta do Algarve Rural - Do Barrocal à Serra

Um percurso por entre rosmaninhos, tomilhos, estevas, alfarrobeiras e sobreiros, convivendo com a hospitalidade das gentes, á volta do pão de alfarroba ou rolão, do medronho e do chouriço. Admiramos as artes e ofícios locais, testemunhos de um saber antigo. Cestos e tapetes de palmeira-anã, cintos e malas em couro, peças em cobre, ferro, latão ou barro, com trapos, linho ou algodão. Vamos á descoberta de castelos e muralhas, desde os celtas aos árabes, fontes de águas cristalinas que antes moveram moinhos e azenhas, igrejas de inspiração árabe ou da renasçença e período barroco.

Subimos a miradouros no cimo de grandes rochas e mergulhamos nas águas de barragens e ribeiras. Admiramos as belas paisagens e observamos a fauna e a flora locais. Paramos a olhar na beleza singela do salgueiro e do freixo.




1º Troço: Loulé - Salir

Loulé, no coração do Barrocal, é uma terra de artesanato e de grande dinâmica comercial organizada em torno do mercado, tão ao gosto Árabe. Nas lojas que rodeiam as muralhas ainda se descobrem artesãos no seu labor. Com uma mestria ímpar, saem cestos e tapetes de palmeira-anã, cintos, malas e peças em cobre e latão.

Começamos por visitar as Muralhas do Castelo (1), de origem Árabe, reconstruídas no séc. XIII e que ainda hoje se podem ver com as suas três torres de alvenaria. No pátio encontram-se algumas pedras medievais, um poço e o arco da antiga porta de ligação à povoação. Também aqui podemos visitar a Igreja Matriz (2), uma construção Gótica do séc. XIII com um interior de três naves. A torre sineira é proveniente da adaptação de um minarete muçulmano. Se o tempo correr devagar, é de visitar o Museu Municipal, onde se encontram colecções sobre etnografia e arqueologia. No centro da cidade visitamos ainda o Convento do Espírito Santo (3), onde está instalada a Galeria de Arte Municipal. Na saída para Boliqueime, seguindo a EN 270, avista-se à esquerda a Mãe Soberana (4), num outeiro servindo de miradouro sobre a cidade, os campos e o mar. Este é um magnífico monumento do séc. XVI, estilo Renascença, dedicado a N. Sra. da Piedade, padroeira de Loulé. 

Voltamos a entrar em Loulé para apanhar a EN 396 em direcção à aldeia de Querença, situada na transição entre o Barrocal e a Serra. Lá bem no alto encontra-se a pequena e bonita Igreja (5), que data do séc. XVI e exibe um belo portal Manuelino. Frente à Igreja ergue-se o Cruzeiro (6) em pedra. Ainda na aldeia fabrica-se um dos mais apreciados chouriços da região e as bonecas de trapos (7), com os trajes tradicionais representando várias profissões. Ali perto, em Pombal, fazem-se deliciosos gelados (8), à base de produtos naturais. 

No património natural há três locais a não perder. Para os que gostam de andar a pé, o Cerro dos Negros (404m), logo à saída de Querença, oferece um amplo panorama sobre o litoral. Outro local de grande beleza natural a não perder é a Fonte Filipe (9), no curso da Ribeira das Mercês, onde se podem visitar as grutas, cujas águas têm propriedades terapêuticas. Já os amantes da fauna e da flora encontram no parque da Fonte Benémola (10), Sítio Classificado pelo ICN, espécies vegetais pouco comuns no Algarve: salgueiros e freixos, além dos loendros, chopos e tamargueiras; e a vegetação típica do Barrocal algarvio: o alecrim, o rosmaninho, o tomilho, a esteva, o zambujeiro, o sobreiro e a alfarrobeira. Na fauna destacam-se a lontra, uma grande diversidade de aves e algumas colónias de morcegos. Da Fonte Benémola seguimos em direcção à aldeia da Tôr, atravessando a ponte sobre a Ribeira de Algibre. Ao chegar ao cruzamento com a estrada 525 que vem de Loulé, viramos à direita em direcção a Salir. Um pouco antes de chegar a esta vila encontra-se à esquerda um desvio para a Nave do Barão, onde existe um percurso pedestre sinalizado no terreno. 

Fonte Fílipe

2º Troço: Salir - S. Bartolomeu de Messines

A vila de Salir espalha o seu casario branco pela colina, envolvendo as ruínas do castelo. As ruas estreitas, as paredes caiadas e as flores das casas dão-lhe um toque de tranquilo viver. As escavações arqueológicas do castelo supõem-na habitada pelos Celtas, mas foram os Árabes que a fizeram crescer durante o período da ocupação Almoada, no séc. XII. São deles as ruínas do Castelo de Salir (11), um importante património arqueológico que brevemente irá ter à disposição do público as infra-estruturas adequadas para a sua interpretação.

Deixamos Salir em direcção a Alte pela estrada EN 124, mas logo viramos em direcção à Rocha da Pena (12), Sítio Classificado pelo ICN e excelente para a prática do pedestrianismo e de desportos radicais, como parapente ou escalada. Tomamos a estrada 503 até à Cortinhola. Aqui fazemos uma pequena rota até ao Malhão (13), onde existe um excelente miradouro sobre a serra e um templo budista. Continuando na estrada 542 segue-se até ao Azinhal onde se desvia para Sarnadas, em direcção a Alte. Os terrenos que atravessamos fazem parte da Quinta do Freixo (14), uma propriedade agrícola, com reserva de caça, agro-turismo e produtos agro-alimentares biológicos. Paramos nas Sarnadas para apreciar a gastronomia local e ouvir o Sr. Joaquim, um excelente contador de histórias. Continuando em direcção a Alte, desviamos para subir os 467m da Rocha dos Soidos (15), um miradouro natural com uma paisagem sobre o ondulado da serra e tendo o mar no horizonte sul.

Chegamos a Alte, uma aldeia com vestígios de ocupação Romana e onde a cultura Árabe marcou decisivamente a arquitectura local. 

Do património cultural de Alte há a destacar a Igreja Matriz (16), rica pela sua talha e azulejaria Barrocas, abóbada Quinhentista, portal e pias baptismais Manuelinos e a Igreja de São Luís. Recomendamos uma visita à Casa Memória D’Alte, onde funciona o Posto de Turismo local, que dispõe de informações sobre percursos dentro e fora da aldeia. 

Ponto de referência para qualquer visitante é o som das águas da Ribeira de Alte. Aí encontramos o ex-libris da aldeia: as Fontes (17), Fonte Pequena e Fonte Grande. Estas nascentes de água, que durante séculos moveram os nove moinhos existentes ao longo do seu curso e serviram para abastecer a população local, estão hoje convertidas num local muito aprazível para piqueniques e banhos, pois possui uma represa em forma de piscina natural. 

A poucos quilómetros de Alte, na direcção de Santa Margarida, há um desvio para a Torre, onde se pode visitar uma cooperativa de produção artesanal de brinquedos em madeira. 

Fontes de Alte

3º Troço: S. Bartolomeu de Messines - Paderne

Vindos de Alte pela EN 124 chegamos a São Bartolomeu de Messines. Vila situada num longo e fértil vale nas faldas meridionais da montanha do Penedo Grande, na Serra do Caldeirão. É de visitar a Igreja Matriz (18) do séc. XVI, com fachada Barroca. O contraste entre o branco das paredes e as cantarias de grés vermelho, o gracioso adro com escadaria e a riqueza do seu interior, fazem desta uma merecida visita. O destino seguinte dá-nos a conhecer a vida e a obra de João de Deus, poeta e pedagogo, autor da “Cartilha Maternal”, na Casa Museu João de Deus (19). Antes de sair do centro da vila é meritória a visita a um caldeireiro, um albardeiro ou a um artesão da cestaria de cana. A vila dispõe ainda de diferentes lojas de artesanato onde se podem adquirir produtos de couro, barro, ferro, latão, tabúa e trapos. Para usufruir do património natural envolvente aconselhamos uma rota seguindo a EN 124 até às Barragens do Funcho e do Arade (20). Existem excelentes locais para passeios, piqueniques ou observação da fauna e flora. 

Voltamos a apanhar a EN 124 e depois a EN 270 em direcção a Paderne. Encostada numa colina, a aldeia de Paderne é um casario branco que mais parece um presépio. Antes de entrar na vila, as placas de sinalização apontam para o Castelo de Paderne. A meio do caminho cruzamo-nos com uma Fonte (21) do séc. XVIII. Logo depois, quando se começa a subir, tomamos um atalho à direita em terra batida e ao fundo, mesmo por baixo da grande ponte que carrega a Via do Infante, seguimos em frente para a Azenha e Açude da Ribeira de Quarteira (22). Um local aprazível, com água corrente, constituindo um sistema tradicional de moagem que tem por força motriz o impulso da água. Estes engenhos são mais antigos que os moinhos de vento e constituem uma herança do período Árabe. Acompanhando a ribeira e situada mais a baixo, no vale a sudoeste do Castelo, ergue-se a Ponte Medieval (23), de feição Romana, reedificada em 1771 e onde são visíveis três arcos e dois talha-mars com a forma de prisma triangular. Da azenha voltamos para trás para apanhar de novo o caminho para o Castelo (24). É um dos que figuram na Bandeira de Portugal e foi conquistado aos mouros em 1248. Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1971, o castelo está a ser objecto de estudo com vista à sua valorização e as áreas envolventes à Ribeira de Quarteira estão a ser classificadas como Área de Paisagem Protegida. Do alto do castelo vê-se de um lado a azenha e do outro a Ponte Medieval. Existe um percurso pedestre de 4 kms em torno do castelo, da ponte e da azenha. Toda a área é muito rica em fauna e flora, mas está sujeita à proximidade da Via do Infante e da nova auto-estrada para Lisboa. Deixamos o castelo pela mesma estrada e voltamos à EN 270 para seguir até à vila. É de visitar a Igreja Matriz (25), um belíssimo templo de três naves, datada de 1506 e com acréscimos posteriores. Continuamos pela EN 270 para ir até Boliqueime ou pela EN 395 para ir até Albufeira.

Castelo de Paderne


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