Situado na colina fronteira ao burgo medieval, mas dentro da malha urbana moderna, o Colégio dos Jesuítas foi construído para ser o principal edifício da cidade, desfrutando de enorme impacto visual, elevando-se no meio de casario baixo, e uma carga cenográfica como não acontece em nenhum outro monumento portimonense.
A sua edificação recua a 1660 e a uma figura importante da nobreza do Portugal Restaurado: D. Diogo Gonçalves. Este nobre, oriundo de Vila Nova de Portimão e com ligações ao Oriente, determinou, por testamento, a fundação de um Colégio da Companhia de Jesus em Portimão, tendo-se feito sepultar, posteriormente, na capela-mor da sua igreja, em arcossólio de volta perfeita, de mármore, e túmulo acompanhado por uma extensa legenda epigráfica. É provável que o Colégio tenha ocupado parcialmente estruturas anteriores, como o parece provar um arco manuelino, actualmente no corpo lateral direito do conjunto. O edifício barroco, todavia, levou algum tempo a ser construído, tendo-se realizado a cerimónia de sagração já em 1707, quando o tempo artístico assumia plenamente o Barroco, em detrimento das concepções maneiristas que caracterizam ainda as construções jesuíticas.
Como construção jesuítica, a arquitectura do Colégio reflecte as dominantes estéticas sóbrias e austeras da Ordem e que constituem, mesmo, uma dos mais interessantes capítulos da arquitectura seiscentista portuguesa. A imponente fachada principal, onde o carácter cenográfico do conjunto mais se faz sentir, é obra de João Nunes Tinoco, "a figura de maior prestígio da arquitectura portuguesa da segunda metade do século XVII antes de João Antunes" (SERRÃO, 2003, p.134), que aqui concebeu um projecto praticamente idêntico ao Colégio de Faro. A igreja mantém-se fiel ao esquema jesuítico, com nave única bastante alta, abóbada de canhão, e destituída de compartimentação interior, esquema aqui desenvolvido numa escala tão grandiosa que conferiu, a este estabelecimento, o estatuto de maior igreja do Algarve.
A nascente, três capelas, sendo a central a capela-mor, ostentam outros tantos retábulos de talha dourada, de estilo nacional, obras ligeiramente posteriores à sagração do templo, datadas de 1717-1719 (MAIA e VENTURA, 1993, p.50) e devidas a Manuel Martins, o mesmo que escassos anos depois haveria de trabalhar para a Igreja Matriz de Portimão, e cuja qualidade artística das obras que chegaram a té hoje o permite catalogar como o "maior entalhador algarvio da sua época" (LAMEIRA, 1991, p.242).
O terramoto de 1755 veio provocar alguns danos neste espaço, destacando-se a ruína das abóbadas, um facto que pode ter estado na origem da refeitura do remate da fachada principal (MAIA e VENTURA, 1993, p.50), dada a sua aparente descontextualização em relação aos registos inferiores.
Escassos dois anos depois, o Marquês de Pombal determinou a extinção da Ordem. Por decreto datado de 1774, D. José doou a cerca do antigo Colégio à Universidade de Coimbra e, mais tarde, D. Maria pretendeu instalar neste edifício uma casa da Ordem de São Camilo de Lélis, congregação que chegou, mesmo, a tomar posse do conjunto em 1780.
Como tantos outros conventos pelo país, o ano de 1834 significou o inícios de uma prolongada ruína. Extintas as Ordens religiosas, o imóvel foi repartido por várias instituições locais, como a Misericórdia e a assistencial Ordem Terceira de São Francisco, que numa das alas instalou um Hospital.
Na actualidade, o antigo Colégio dos Jesuítas de Portimão permanece disperso por várias entidades, facto que tem tornado muito difícil a sua manutenção e até recuperação. Enquanto que algumas alas têm vindo a ser objecto de beneficiações mais ou menos periódicas, outras estão votadas ao esquecimento, faltando ainda uma perspectiva global de intervenção e de exploração de um dos mais emblemáticos edifícios portimonenses e algarvios.
Fonte: http://www.igespar.pt/
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