sábado, 25 de fevereiro de 2012

À Descoberta do Algarve Rural - Pela Serra de Monchique

Neste percurso pela Serra de Monchique, a “Sintra do Algarve”, os cenários são de água e vegetação luxuriante. Fontes e ribeiras descobrem-se a cada recanto, num jogo de sombra e luz por entre pinheiros, medronheiros e castanheiros. Redescobrimos as termas e descansamos junto a árvores seculares. Sabe bem um piquenique em família, abrigados num verde florido, escutando os sons da água que se misturam com o canto das aves. Deliciamo-nos com os sabores da serra e da terra: enchidos, mel e medronho.
Vamos por picos e montes que nos conduzem a vales acolhedores e de uma exuberante beleza florística: Camélias e Acácias ou a Rosa albardeira. Com os seus 902 m, impõe-se a Fóia, um impressionante miradouro natural com vista para o Algarve e Alentejo num horizonte de mar e serra.



1º Troço: Caldas de Monchique - Alferce

Saindo de Portimão ou Silves e subindo em direcção a Monchique, depois de uma curva, surpreende-nos o verde a descansar numa colina pontilhada pelo colorido das casas. Chegamos às Caldas de Monchique.
A identidade desta povoação está intimamente associada à riqueza das suas águas e às suas propriedades curativas. Já em 1495 D. João II veio cá aos banhos para recuperar da sua doença. 
Ligado a este património termo-mineral está o Complexo das Termas de Monchique (1) que actualmente tem não só uma oferta turística de saúde mas também de bem-estar e beleza. São os “SPAs”, a completar a oferta tradicionalmente centrada nos problemas digestivos, ósseos ou respiratórios. 
Para o tratamento de várias doenças ou simplesmente para umas férias relaxantes, o Complexo Natural das Caldas (2) oferece um cenário de água e vegetação deslumbrante. Fontes, ribeiras e regatos descobrem-se a cada recanto, num jogo de sombra e luz onde o verde domina. Plantas raras e árvores seculares, pinheiros, medronheiros, camélias e acácias, surgem pelos caminhos e trilhos que convidam a passeios calmos ou a piqueniques em família, num contacto revitalizante com a natureza. 
Nas Caldas, aconselhamos um passeio até à Fonte dos Amores (3) situada num parque de merendas à sombra de eucaliptos ancestrais. Aprecie o complexo arquitectónico que é de uma enorme beleza, fazendo lembrar-nos outra serra. É que Monchique é conhecida como a “Sintra” do Algarve. Do património cultural local destaca-se a Ermida das Caldas (4). 

Fonte dos Amores

2º Troço: Alferce - Monchique

Saímos das Caldas de Monchique em direcção a Monchique e logo à entrada da vila viramos à direita na EN 267 para Alferce. Nesta estrada podemos subir ao cerro da Picota. Com os seus 774 m, este é um dos pontos mais altos e escarpados da Serra de Monchique, sendo de visitar o Miradouro da Picota (5). Ficamos deslumbrados com a maravilhosa vista sobre a serra. Regressamos à EN 267 e surpreende-nos uma árvore monumental, o Carvalho das Canárias ou de Monchique - Quercus canariensis (6).
Mais à frente, numa colina que se eleva por entre campos de oliveiras, encontramos uma aldeia rural de casas caiadas e flores às portas. Segundo se pensa, o nome Alferce deriva de alfaraç (cavaleiro) e pode estar relacionado com a presença muçulmana no Castelo da Pedra Branca ou Castelo de Mouros (7) onde existem vestígios do que poderá ter sido uma guarda avançada da capital Silves. Nesta aldeia é de visitar a Igreja Matriz (8) de nave única e capela-mor rectangular. Dedicada a S. Romão, a igreja terá sido construída nos finais do séc. XV e renovada em 1578, data esta inscrita no fecho do arco triunfal. De realçar, ainda, a primitiva imagem do padroeiro em pedra, a cobertura da capela-mor, o seu retábulo em talha e a porta ogival. Os testemunhos materiais visíveis nesta igreja situam Alferce no final do séc. XV. De facto, no período de Quinhentos, houve um movimento de emancipação criando-se novas freguesias e Alferce parece ter sido um dos resultados desse movimento. 
Antes de sair da aldeia podemos apreciar os bordados, um trabalho que tem sido desenvolvido por diversos entusiastas e onde este saber-fazer ainda se encontra bem presente. 
Dirigimo-nos ao Barranco do Demo (9) onde existe uma garganta cujas águas vão desaguar à Ribeira de Monchique numa paisagem de rara beleza com vista para os contrafortes da Serra de Monchique. A águia de Bonelli, ex-libris da avifauna do sul de Portugal e da Europa, apesar da sua raridade, está em crescimento nesta zona do sudoeste. Nidifica nos eucaliptos de grande porte, enquanto mais a norte prefere as vertentes rochosas. O lince ibérico, o felino mais ameaçado da Europa, também vive nos matos baixos e cerrados desta zona. 

Alferce

3º Troço: Monchique - Fóia

Tomamos a estrada para Monchique e chegamos à vila. Monchique localiza-se entre dois maciços, o da Fóia e o da Picota, no coração da serra de Monchique. Começamos por visitar a Igreja Matriz (10). Foi edificada nos sécs. XV/XVI mas ficou bastante destruída por altura do terramoto de 1755. Posteriormente, veio a sofrer uma profunda remodelação e foi classificada como um Imóvel de Interesse Público. Quando entramos nesta igreja temos uma sensação de abertura e leveza, talvez pelas suas três naves serem tão amplas... Estas são separadas por harmoniosas arcadas de volta perfeita, onde os capitéis das colunas repetem o tema decorativo do portal principal. Os elementos mais relevantes são os seus dois pórticos, belos exemplares do estilo Manuelino. Podemos apreciar sete retábulos e a imagem da N. Sra. da Conceição atribuída ao escultor Machado de Castro, um belo exemplar também do período Manuelino. A salientar a Capela do Santíssimo, com uma abóbada Manuelina revestida com azulejos do séc. XVII e os quatro painéis de alminhas. O Núcleo de Arte Sacra (11), no edifício da Igreja Matriz, reúne o espólio da freguesia que entretanto foi alvo de uma recuperação por parte de especialistas. A Igreja de São Sebastião (12) é a próxima paragem onde destacamos as colunas fantasiosas que integram o retábulo do altar e a imagem da N. Sra. do Desterro datada do séc. XVII. Na Igreja da Misericórdia (13), possivelmente anterior ao séc. XVI, o realce vai para o altar, o púlpito e o baldaquino. A não perder a exposição dos painéis utilizados nas procissões e duas telas do séc. XVIII. A Ermida do Sr. dos Passos (14) é um exemplo de simplicidade. Tem um só altar e uma imagem de Cristo em tamanho natural.
Ainda na vila, não nos escapa o seu património natural representado pelas árvores monumentais, como a Araucária de Norfolk - Araucaria heterophylla - (15). Uma encontra-se junto ao Largo dos Chorões e a outra na Quinta do Viador. Estes são alguns dos espécimes do concelho de Monchique classificados como árvores monumentais, pela sua idade, porte ou raridade. 
Antes de sair da vila é de espreitar os produtos locais desta região. Visite a Casa dos Arcos (16) onde poderá adquirir o artesanato mais popular da zona. Trata-se do trabalho do “Homem das cadeiras de tesoura”. Os trabalhos em barro e peças de cerâmica estão em mostra e venda na Casa da Nogueira (17). Muitas mulheres dedicavam-se à confecção de artigos em linho. Actualmente esta actividade está em declínio porque os mais jovens não se revêem nestes ofícios tradicionais. O mel da serra de Monchique é um néctar multifloral de sabor suave. A famosa aguardente de medronho, do não menos famoso fruto do medronheiro - Arbutus unedo -, é um dos ex-libris da zona. Fruto de um saber ancestral, no início do ano, é ver o fumo a sair dos telhados das casas, sinal de que a “destila” está no auge. Por fim, os famosos enchidos, outro dos produtos emblemáticos, dão direito a uma feira anual. O mólho, a farinheira de milho, a morcela de farinha e a chouriça servem também de ingredientes a pratos da gastronomia monchiquense, que valem a pena apreciar pela sua riqueza e diversidade: feijão ou grão com arroz, feijão com couve, couve à Monchique, assadura, papas de milho em caldo mouro. 
Vamos conhecer um pouco melhor os arredores da vila. O Convento de N. Sra. do Desterro (18), fundado em 1631 encontra-se em ruínas. Mas esta rota tem valor pois aqui podemos apreciar a Magnólia - Magnolia grandiflora - (19), presumindo-se que esta é a mais alta árvore da sua espécie em Portugal. Daqui desfrutamos de belos panoramas sobre a vila e a encosta da Picota, um dos poucos locais onde se observam resquícios da vegetação autóctone. Estamos num ambiente natural privilegiado, pois grande parte desta serra foi proposta para ser incluída na rede ecológica europeia Natura 2000. 

Monchique

4º Troço: Fóia - Marmelete

Saímos de Monchique e subimos em direcção à Fóia defrontando-nos com um panorama de mar e serra. A Fóia, com os seus 902 metros, é o ponto mais alto a sul do Rio Tejo. Este é um verdadeiro e impressionante miradouro para o Algarve e Alentejo, com uma vista que vai de Vila Nova de Milfontes até Albufeira! A norte observam-se ainda as ruínas do casario da aldeia de Barbelote e um magnífico conjunto de socalcos a lembrar tempos de grande actividade agrícola. Todo este complexo montanhoso funciona como uma barreira aos ventos atlânticos carregados de humidade que, ao colidirem com ele, precipitam e permitem o desenvolvimento de tão exuberante beleza florística. Espécies únicas como a Adelfeira - Rhododendrum ponticum - ocorrem nestas particulares condições, ou o Azevinho - Ilex aquifolium - que a sul só faz a sua aparição nesta serra, ou ainda a Euphorbia monchiquensis uma planta endémica e a tão comum Rosa albardeira - Paeonia broteroi.
Da Fóia propomos que se regresse a Monchique para depois seguir em direcção a Peso, até chegarmos ao Barranco dos Pisões (20) onde a água é o tema dominante ao longo do ano. Encontramo-nos então rodeados de freixos, amieiros, choupos e outras árvores, bem como de um Plátano - Platanus hybrida - (21), classificado como árvore monumental de Portugal. 
Daqui, percorrendo a estrada que passa por detrás da Fóia, chegamos a Marmelete, pequena localidade onde é de visitar a Igreja Matriz (22) situada no centro da aldeia e que tem como padroeira a N. Sra. da Conceição. Para terminar o percurso, seguimos até uma pequena elevação perto da aldeia a fim de visitar a Ermida de Sto. António (23) e desfrutar da bela vista sobre o casario e o mar. 

Barranco dos Pisões

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