As perfurações, a oito quilómetros da costa, podem começar em Outubro. A Plataforma Algarve Livre de Petróleo põe em causa os estudos de impacto ambiental e exige “transparência” nos contratos de exploração
Numa altura em que se intensificam as políticas de incentivos às energias renováveis, o Algarve avança em contracorrente para a exploração do petróleo e gás natural. A Plataforma Algarve Livre de Petróleo (PALP) duvida que o país e a região tenham alguma coisa a ganhar com este tipo de indústria. “Os riscos são grandes e os benefícios são reduzidos ou nulos” foi a conclusão saída de um debate realizado em Faro. A falta de informação e de “transparência” nos contratos celebrados entre o Governo e um consócio liderado pelo grupo espanhol Repsol, estão a agitar a opinião pública regional.
O início da exploração do petróleo no mar algarvio está previsto para Outubro, mas há muitas reservas e dúvidas quanto às consequências que esta actividade possa vir a ter no sector turístico. “Não acredito nos estudos de impacto ambiental, encomendados pelas empresas que fazem os furos”, disse Fernando Pessoa, dirigente da Liga para a Protecção da Natureza, na quinta-feira à noite num jantar/debate, promovido pela “Tertúlia Farense”. A assistência, constituída por mais de 60 pessoas, corroborou esta tese, mas também houve quem afirmasse que se está a fazer “propaganda” negativa, sem fundamento.
O antigo director-geral do Terminal de Gás Natural Liquefeito do porto de Silves, Carlos Azevedo, disse que a “forma diabólica” como o assunto está a ser tratado não o surpreende. No passado, disse, ouviu idênticas críticas em relação ao “projecto do gás natural e hoje já ninguém se lembra disso”. Por falar em riscos, denunciou, “ninguém fala nas dezenas, centenas de petroleiros que passam pela costa do Algarve e qualquer um tem um risco muito superior a este pequeno projecto que está a ser apresentado”. A exploração que está prevista “não é sobre petróleo, mas sobre gás natural, que tem características muito diferentes”, desdramatizou. Numa coisa disse estar de acordo com os dirigentes da PALP – plataforma que reúne 11 entidades, entre as quais as associações ambientalistas Quercus, LPN e Almargem: “Nós, enquanto grupo de intervenção, no que devemos apostar é em saber quais são as características do contrato [de exploração], porque não sabemos rigorosamente nada”.
O sociólogo João Martins, professor da Universidade do Algarve (dirigente da PALP) reclamou o direito à informação e à participação dos cidadãos. “O processo de decisão tem sido tratado nos bastidores da política, de forma oculta”, denunciou. De resto, acrescentou, “não deixa de ser espantoso que das 16 câmaras municipais, só uma, a câmara de Silves [CDU], tenha respondido a um pedido de reunião para discutir o assunto”. O que pretende, afirmou, é que o assunto seja retirado do “secretismo dos bastidores da economia da política”. Nesse sentido, a plataforma promove o seu primeiro encontro regional no próximo dia 30. Por outro lado, o vereador da câmara de Faro, Paulo Neves (PS), observou: “A Comunidade Intermunicipal do Algarve- Amal não se pode demitir desta discussão”. Em relação aos eventuais benefícios, previstos nas contrapartidas do contrato de exploração, advertiu, “não ficarão na região nem no país”. Segundo este antigo deputado, só haveria direito a pagamentos “se houvesse petróleo e, pelos vistos, o que vai ser explorado é gás”. Por sua vez, Luciano Abelheira, professor do ensino primário, perguntou: “O que será que vai acontecer à boa sardinha do Algarve, com a poluição das águas?” Em jeito de conclusão, atirou: “O nosso ouro negro é o turismo, não é o petróleo”. Já o médico Mário Lázaro entende que este projecto destina-se a “satisfazer o ego de Portugal”, insuflado pela ideia de que a exploração de gás ou petróleo, a oito quilómetros da costa, faz de um país, em dificuldades, “um potentado” na Europa.
Fonte: http://www.publico.pt/
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