quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ria de Alvor - Ostras a três euros o kg


"As ostras já foram abundantes em vários estuários do País, mas doenças sucessivas ditaram a sua quase extinção. Nos últimos anos, através da aquacultura, houve o ressurgimento deste molusco. Os últimos dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística, respeitantes a 2009, indicam uma produção de quase mil toneladas no País e uma facturação de quase 1,2 milhões de euros, valores que, segundo apurámos junto de aquacultores, deverão ter aumentado no ano passado.

A ria de Alvor, no Algarve, é uma das zonas que oferecem melhores condições para o crescimento de ostras, registando uma produção estimada em cerca de 250 toneladas por ano. Praticamente toda a produção se destina a França.
Octávio Parreira começou há cerca de uma década a cultivar ostras. "O processo é todo natural. A ria tem águas limpas e muito alimento, o que permite um rápido desenvolvimento das ostras", diz o aquacultor. Este compra os juvenis, da espécie giga e com 18 meses de idade, em França, mantendo-os em crescimento, durante um ano, na ria de Alvor. Durante esse período, a ostra pode passar de 10 para quase 100 gramas, sendo então readquirida pelos franceses.

Rui Ferreira também está na actividade há cerca de 10 anos e é, actualmente, o maior aquacultor de ostras de Alvor, dispondo ainda de uma estrutura de produção no rio Arade. No seu caso, opta por adquirir juvenis muito mais pequenos do que a generalidade dos restantes aquacultores, com apenas três meses s, pelo que o tempo de crescimento exigido é maior - entre 1,5 e 2 anos.
"As ostras são colocadas em sacos próprios, mas nem todas crescem ao mesmo ritmo, pelo que temos de peneirar, retirando as maiores para sacos com uma malhagem superior. Desta forma, as ostras mais atrasadas no desenvolvimento começam a crescer mais rapidamente", explica Rui Ferreira, que conta, actualmente, com cerca de "nove milhões de ostras em produção". Este aquacultor, que tem três trabalhadores em permanência e mais três sazonais, faz ainda uma selecção das ostras antes de exportá-las para França.
Rui Ferreira acha que "o negócio tem pernas para andar, mas acarreta muitos riscos". O custo das sementes (ostra pequena) também tem aumentado muito e existe uma grande escassez. Os preços obtidos pelos aquacultores dependem da procura do mercado, mas a ostra de tamanho comercialmente mais adequado (entre 65 e 100 gramas) pode atingir cerca de 3 euros por quilo.
O período de produção situa-se entre Setembro e Maio. Nessa altura, é retirada a ostra já crescida e colocada a pequena na ria.
QUALIDADE DA ÁGUA É ESSENCIAL
A área de cultivo na ria de Alvor ronda os 67 metros quadrados. Os aquacultores dizem que a qualidade da ostra resulta da própria qualidade da água. Há quem traga ostras de Setúbal para efectuar a sua limpeza (afinação), antes da venda.
"BUROCRACIA ATRASA PROJECTOS": Fernando Gonçalves, Assoc. Portug. de Aquacultores
CM – Qual é a importância da ostra no sector da aquacultura?
Fernando Gonçalves – A produção em aquacultura ronda as oito mil toneladas e só a ostra representa cerca de mil, segundo o INE. É uma fatia importante.
– Quais são as principais dificuldades com os aquacultores de ostra se debatem?
– Os produtores têm de ir buscar os juvenis de ostra a França porque não existem maternidades em Portugal. Faltam ainda depuradoras e apoio tecnológico. Pelo contrário, a burocracia é excessiva e está a atrasar o licenciamento de novos projectos, tanto inshore como offshore.
– O que é que o País ganha com o desenvolvimento do sector?
– É uma actividade que emprega muita mão-de-obra e que cria um produto de qualidade destinado sobretudo à exportação.
RIA FORMOSA REGISTA AUMENTO DE PRODUÇÃO
A ria Formosa, no Algarve, é a zona com maior produção de ostras, sendo a maior parte destinada ao mercado interno (cerca de dois terços). Manuel Augusto da Paz, presidente da Formosa - Cooperativa de Viveiristas da Ria Formosa, diz que tem havido "um grande incremento da actividade", estimando que a produção anual se aproxime das "600 toneladas". Os juvenis são importados de França e colocados "no solo, crescendo livremente". Quando desovam, a água leva os juvenis para toda a ria, contribuindo assim "para o seu repovoamento". Existem as variedades portuguesa (angulata) e giga (japonesa), bem como variedades resultantes do cruzamento entre ambas. Apesar dos riscos, a actividade pode gerar uma taxa de rentabilidade "entre os 40 e os 50%".
DIVERSOS TIPOS DE CULTURA
Existem diversos tipos de cultura de ostras em Portugal. Na ria de Alvor, os aquacultores optam por colocar o molusco em sacos de rede em cima de estruturas de ferro, ficando na maré baixa fora de água. Na ria Formosa, o método é diferente, sendo a ostra colocada directamente no solo. Em Sagres, existe ainda a cultura em mar aberto, em estruturas próprias.
DENOMINAÇÃO DE ORIGEM
A ostra da ria Formosa , tal como a amêijoa boa, vai dispor do selo de Denominação de Origem. Manuel Augusto da Paz refere que "o caderno de encargo será entregue à União Europeia em breve", prevendo que "até ao final do ano" o processo esteja concluído. O dirigente cooperativo refere que isso será uma garantia para os consumidores de "um produto de alta qualidade"." - Correio da Manhã

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