Poeta e pedagogo, João de Deus nasceu a 8 de março de 1830, em S. Bartolomeu de Messines, e morreu a 11 de janeiro de 1896, em Lisboa.
Depois de ter frequentado, durante dez anos, o curso de Direito em Coimbra (onde foi uma das figuras mais destacadas da boémia estudantil da época e se relacionou com alguns elementos da Geração de 70, sobretudo Antero de Quental e Teófilo Braga), de ter dirigido em Beja, entre 1862 e 1864, o jornal O Bejense(onde publicou muitas das suas primeiras poesias), e de ter iniciado a prática de jurisconsulto, foi eleito deputado, em 1868, por Sines. Mudou-se para Lisboa, onde continuou a frequentar ambientes de boémia literária. Colaborou em vários jornais e revistas, como O Académico, Anátema, O Ateneu, Ciências, Artes e Letras, O Fósforo, Gazeta de Portugal, A Grinalda, Herculano, Prelúdios Literários e Revista de Coimbra. Por volta de 1868-1869, coligiu as suas poesias no volume Flores do Campo, a que se seguiram Ramo de Flores(1869), Folhas Soltas (1876), Despedidas do verão (1880) e Campo de Flores (1893). No seguimento da sua nomeação para o cargo de comissário-geral do ensino da leitura, viria a desempenhar um papel social e cultural da maior distinção, revelando-se decisivos os seus esforços para a alfabetização de camadas cada vez mais alargadas da população portuguesa. A publicação, em 1876, da célebre Cartilha Maternal, método de ensino da leitura verdadeiramente revolucionário no panorama pedagógico nacional, constituiu um marco importante desse processo. Devido, em parte, à sua ação de pedagogo, em 1895 foi agraciado com várias homenagens à escala nacional, entre as quais a de sócio-honorário da Academia Real das Ciências e do Instituto de Coimbra.
Como poeta, João de Deus situou-se num momento em que a via ultrarromântica estava já a esgotar-se, mas, apesar do apreço que lhe manifestavam autores como Antero de Quental, não se identificou com as preocupações filosóficas e sociais da Geração de 70. De facto, a temática dominante da sua obra poética afastou-o da nova corrente. O seu lirismo intimista versa constantemente sobre o amor, e por vezes perpassa um sentido de plácida religiosidade, exprimindo-se sempre num estilo simples. A sua obra abrange vários géneros, da ode à elegia, do epigrama à fábula, passando pelo soneto. João de Deus, que Antero considerava, já em 1860, "o poeta mais original do seu tempo", defendeu e praticou um lirismo depurado, inspirado, a exemplo de Garrett, na lírica tradicional portuguesa e na obra camoniana, de onde recuperaria o soneto como um dos seus géneros de eleição.
Bibliografia: Flores do Campo, s/d (poesias); Ramo de Flores, 1869 (poesias); Folhas Soltas, 1876 (poesias); Cartilha Maternal, 1876 (didáctica); Despedidas do Verão, 1880 (poesias); Campo de Flores, 1893 (poesias); Prosas, 1898 (crónicas, edição póstuma)
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